Desde que apresentamos a ideia de usar inteligência artificial para monitorar o dinheiro público, quase como um tribunal de contas aberto, mantido pela própria população que se beneficia dele, as pessoas pedem por uma expansão municipal.
Desde então, são praticamente dois anos de amadurecimento. Da Operação Serenata de Amor e das próprias pessoas que a realizam.
Em 2016, fazia todo sentido começar pelo Congresso Nacional. Estava na mídia. Muitos tentavam entender o que um deputado fazia.
E assim começamos por uma cota de reembolsos da Câmara dos Deputados. Tinha dados suficientemente organizados e disponível para análises. Mesmo Brasília sendo um lugar distante para muitos, era fácil se identificar com uma inteligência artificial capaz de olhar para mais de 1 milhão de gastos, com direito a fretamento de aeronaves, compra de bebidas alcoólicas no exterior e refeições feitas em pontas opostas do país mas separadas apenas por minutos de diferença. Falávamos de uma cota de R$ 40 mil mensais para cada um dos 513 deputados federais.
Conseguimos apresentar a ideia de que fazer ativismo de sofá poderia ser uma coisa boa. Denunciamos gastos de centenas de deputados federais e fizemos 134 deles devolver dinheiro. Tudo isso sem sair de casa.
No entanto, algumas coisas não mudaram: participar ativamente do processo democrático continua sendo algo distante para boa parte da população. Brasília é distante. É difícil de se preocupar com o trabalho de deputados enquanto sua rua está cheia de buracos, enquanto seu ônibus nunca tem hora pra passar, enquanto estão novamente sem luz no bairro, enquanto tem tiroteio fechando escola.
Tudo isso nos lembra que existem pessoas sendo pagas pra planejar e aplicar políticas públicas efetivas. Esses problemas não deveriam acontecer.
E muito disso é responsabilidade da administração do município. Prefeitura e Câmara Municipal se complementam no objetivo de garantir o bem-estar da população local.
Semanas atrás, quando decidimos que a Operação Serenata de Amor passaria a atuar no nível municipal, começamos a estudar legislação. Não adianta querer criar algo sem entender a base legal, as obrigações dos municípios.
E não adianta criar um sistema que funcionaria apenas em Rio e São Paulo. Queríamos criar algo realmente escalável, capaz de impactar a maior parte da população brasileira. Esse é o poder da Inteligência Artificial, do Big Data.
Longe de serem perfeitos, a qualidade de dados abertos federais está a anos-luz de distância dos municípios. Mesmo em grandes capitais, não existe padronização de sites, de formato de arquivos.
Nos municípios, grande parte dos dados estão em PDFs, num formato que se assemelha a um jornal do órgão. São chamados de Diários Oficiais.
Os Diários Oficiais são uma fonte de dados riquíssima, pouquíssimo explorada pelo péssimo formato. Muita informação fica disponível somente por ali.
Se tiver paciência para acompanhar esse jornal do órgão, você encontrará quais pessoas foram contratadas ou exoneradas. Cargos comissionados. Anúncios e justificativas de compras com dinheiro público. Mudanças de leis.
Qualquer projeto municipal exigiria olhar para Diários Oficiais.
Queremos dar mais informação, mais poder, às pessoas.
Acreditamos que se o caminhão de lixo parou de passar por falta de pagamento da prefeitura você se sentirá com mais vontade de fiscalizar os gastos do seu município. E de encontrar compras superfaturadas.
Esperamos que ensinar a Rosie a olhar para Diários Oficiais possa trazer muita informação nova para todos. Cidadãos, pesquisadores, gestores, legisladores, órgãos de controle e, porque não, polícias.
Queremos estar presentes nos 100 maiores municípios do país em um ano de trabalho (até abril de 2019). Conseguir isso em tão pouco tempo é bastante desafiador, mas a ideia de criar um banco de dados aberto com toda essa informação é animadora. Isso representaria mais de 40% da população brasileira!
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Originalmente publicado em medium.com/serenata em 8 de maio de 2018.