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Serenata na terra da Máfia - Capítulo 1

Apr 17, 2017 | 3 minutes read

Já falamos no passado que o objetivo da Serenata não é se limitar ao Brasil. Apesar de ser um dos países mais propícios para receber um projeto que depende de dados abertos para fazer controle social da administração pública, precisamos começar a pensar adiante. Conhecendo o futuro distante, podemos planejar melhor os próximos meses de trabalho.

Em 1992, teve início a maior operação contra a corrupção da história moderna. A Operação Mãos Limpas, ou Mani pulite como os seus autores preferem chamar, julgou e sentenciou 1.300 pessoas diferentes. Ficou conhecida por desmascarar organizações criminosas tão poderosas que viraram substantivo em vários idiomas: Máfia. É difícil não enxergar paralelos com a brasileira Lava Jato que, apesar de parecer parcial para alguns, vem investigando e julgando nomes muito conhecidos e bem consolidados nos noticiários políticos nacionais. Hoje, já é reconhecida com prêmios como da Transparency International.

Dessa forma, temos muito o que aprender com os italianos. Com sorte, podemos estudar a que caminhos a Mãos Limpas levou o país para tentar prever o nosso futuro. Isso nos leva até Milão, a cidade onde a operação italiana começou. Aproveitando que um dos sócios da Data Science Brigade e co-fundador da Serenata, Felipe B Cabral, mora na cidade, eu e a Ana Schwendler viemos com fundos próprios para fazer um investimento pessoal no futuro do projeto.

Neste encontro organizado por um grupo local, conhecemos pessoas engajadas em usar Ciência de Dados para beneficiar a sociedade como um todo. Além de ter pessoas incríveis (grazie Carlo Torniai e Andrea Marchini!) que nos ajudaram a entender o italiano que ainda arranhamos, conhecemos um grupo chamado HeartInData. Nos contaram do case onde vem analisando dados de um banco de sangue sem fins lucrativos para aumentar o número das doações que recebe.

Esse grupo de cientistas se reúne semanalmente para descobrir o perfil dos melhores doadores, quem deixou de doar, quando e porquê. Como o trabalho é feito junto da organização que é beneficiada, os resultados podem rapidamente gerar mudanças no marketing.

Apresentação do HeartInData

Link para download. https://www.dropbox.com/s/jgdati8azst10h5/Presentazione_Meetup_v10.pptx?dl=0

Algumas coisas que já aprendemos por aqui:

  • Usar crowdfunding para financiar projetos de interesse público, como fazemos no Brasil, parece ser uma ideia interessante para os italianos;
  • Explicar mesmo que brevemente o que a Operação Serenata de Amor é e faz gera o mesmo tipo de excitação e curiosidade que no Brasil. Quando damos exemplos de como detectamos suspeitas, a reação é “Ei, mas isso não é mágica! Dá pra fazer!”;
  • Fazer uma Operação Serenata de Amor — ou uma Operazione Perugina — na Itália parece desafiador. De acordo com algumas pessoas que conversamos, o governo parece ainda não entender os benefícios de divulgar dados transacionais dos seus gastos. Possivelmente um ou dois partidos o fazem sem que existam leis os obrigando a tal;
  • A percepção de corrupção no próprio país ainda parece grande na mente dos italianos. Não foram apenas uma ou duas vezes que ouvimos “Vocês estão no lugar certo para estudar corrupção!”;
  • Até mesmo por perceber que o próprio país não é tão aberto quanto o Brasil, temem que o governo e as máfias possam reagir contra uma Operazione.

Ainda temos muito o que conhecer e pessoas a conversar. Se percebermos que os italianos querem desenvolver sua própria Serenata, provavelmente financiaríamos com um crowdfunding local, com um time local. Se isso vai acontecer? Ainda é algo muito incerto. O nosso foco principal é aumentar a eficiência do nosso trabalho desenvolvido para o Brasil.

Ciao e aguardem os próximos capítulos!

Quer nos ajudar?

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Originalmente publicado em medium.com/serenata em 17 de abril de 2017.